sábado, 20 de março de 2010

A Erva do Diabo ( Carlos Castaneda)

Li esse livro aos 12 anos ... e desde então sempre que chego a um determinado lugar busco encontrar o " meu ponto certo " e acreditem ... existe um ponto certo em todos os lugares .....



Estávamos sentados na varanda em frente da casa dele e eu resolvi perguntar-lhe mais uma vez sobre os ensinamentos.
Por fim ele me disse que havia um meio, e passou á expor um problema. Disse que eu estava muito cansado de ficar sentado no chão e que o que eu devia fazer era encontrar um ponto (sitio) no chão em que eu pudesse sentar-me sem mecansar.
Quando ele disse que eu estava cansado, percebi que minhas costas estavam doendo e que eu estava quase exausto.
Ele sugeriu que eu andasse pela varanda até encontrar o ponto.Levantei-me e comecei a andar pelo chão. Senti que estava fazendo papel de bobo e sentei-me diante dele.
Ele ficou muito aborrecido comigo e me acusou de não prestar atenção e disse que talvez eu não quisesse aprender.
Depois de algum tempo, acalmou-se e explicou que nem todos os lugares eram bons de se sentar ou estar, e que dentro dos limites da varanda havia um ponto que era único, um ponto em que eu estaria em minha melhor forma.
Cabia a mim distingui-lo de todos os outros lugares. A idéia geral era que eu teria de "sentir" todos os pontos possíveis que me fossem acessíveis, até poder estabelecer, sem dúvida, qual o certo.


Perguntei-lhe se cada um dos dois pontos tinha um nome especial. Ele disse que o bom era chamado o sitio e o mau o inimigo: disse que os dois lugares eram a chave do bem-estar do homem, especialmente para uma pessoa que buscava o conhecimento.
O simples ato de sentar no ponto da gente criava uma força superior; por outro lado, o inimigo enfraquecia a pessoa e podia até provocar a sua morte.
Ele disse que eu tinha refeito a minha energia, que tinha gasto muito na noite anterior, dormindo um pouco no meu ponto. Disse ainda que as cores que eu tinha visto, associadas a cada ponto especial, tinham o mesmo efeito geral, de dar ou de roubar a força.



Dom Juan, por outro lado, estava muito certo de meu sucesso, e, agindo de acordo com isso, disse-me que me ia ensinar a respeito do peiote.
- Você me pediu que lhe falasse sobre Mescalito disse ele. - Queria descobrir se tinha bastante fibra para encontrá-lo cara a cara. Mescalito não é brincadeira. Você tem de ter domínio sobre si. Agora, sei que posso admitir o seu simples desejo como um bom motivo para aprender.
- Vai mesmo ensinar-me a respeito do peiote?
- Prefiro chamá-lo Mescalito. Faça o mesmo.
Quando vai começar?
Não é assim tão simples. Primeiro, você tem de estar pronto.





Do meu próprio ponto de vista, porém, esse último estado especial foi o resumo final de meu aprendizado.
O formidável impacto do terror no nível da consciência sóbria teve a qualidade especial de minar a certeza de que a realidade da vida de todo dia fosse implicitamente real,
a certeza de que eu, em matéria de realidade comum,
poderia fornecer-me um consenso indefinidamente.
Até aquele ponto, o rumo de meu aprendizado parece ter sido um trabalho contínuo para o colapso daquela certeza.
Dom Juan utilizou todas as facetas de seus esforços dramáticos para conseguir o colapso durante aquele último estado especial, fato que me levou a crer que um colapso total daquela certeza teria removido a última barreira que me impedia de aceitar a existência de uma realidade separada:
a realidade do consenso especial

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